NX Zero: “Teve uma época que pensamos em desistir”, diz vocalista

Líder do grupo fala ao iG Jovem sobre os perrengues pelos quais a banda passou no começo e as mudanças que a fama traz

Um belo dia, o NX Zero tocava em uma festinha de aniversário para 50 pessoas, quando foram surpreendidos por um padre. O som da banda foi desligado e então o sacerdote pediu para que todos juntassem as mãos e rezassem, porque “tinha alguma coisa errada” ali.

Isso parece até cena do filme “Detroit Rock City”, que conta a história dos fãs do Kiss considerados “endiabrados” na década de 1970. Mas aconteceu de verdade, nos anos iniciais da banda paulistana que, na época, aceitava tocar em qualquer buraco.

Pode não parecer, mas o NX Zero, que em 2006 ganhou o Brasil com o hit “Razões e Emoções”, completou dez anos em 2011. Em comemoração, a banda gravou em maio o DVD “Multishow Registro”, previsto para sair no segundo semestre.

E o cenário atual da banda é bem diferente dos perrengues que eles passaram quando ainda eram iniciantes, entre paixões adolescentes e rodinhas de pogo. “Nesse DVD a gente usou tudo que quis: fogo, laser, LED. Estamos vivendo aquele sonho de quando começou a banda, que pensamos que nunca iria acontecer”, conta ao iG Jovem Di Ferreroem entrevista exclusiva.

O vocalista e líder do grupo ainda aproveitou o papo para avaliar o amadurecimento da banda, lembrar os anos iniciais na estrada e revelar: “Teve uma época que pensamos em desistir”.

Leia a entrevista na íntegra:

iG: O que mudou em vocês nestes dez anos de carreira?
Di Ferrero: No começo da banda, eu tinha 15, 16 anos. Estava vivendo outras coisas, estava na escola. Tinha aquele lance de ficar apaixonado por uma menina, era esse tipo de assunto que acabava saindo nas letras das músicas. Eu fui crescendo, fui vivendo mais. Hoje a gente mora sozinho, eu pago minhas contas. Sou um cidadão ativo, entendo das burocracias da vida. Isso acaba me influenciando na hora de escrever.


iG: Se antes escola e garotas eram motes para novas canções, o que, hoje, te inspira a compor?
Di Ferrero: Dificuldades que a gente passa, que a gente vê. Coisas que achávamos que era de um jeito e percebe que não é. Por exemplo, a música “Só Rezo”. Conheci o pessoal do Afrorreggae, no Rio de Janeiro, e eles me levaram para conhecer o Complexo do Alemão, Vigário Geral. Comecei a me envolver com as histórias das pessoas que viviam nesses lugares e acabei escrevendo sobre isso. Acho que não conseguiria compor essa letra na época da escola. Precisei viver um pouco mais, ver tanta gente boa que prefere escolher o caminho certo, que é o mais difícil, em vez de optar pelo errado, pelo crime. Isso tudo acaba virando música.


iG: E como foi o começo da banda, vocês passaram por muitas dificuldades?
Di Ferrero: Muitas. A gente tem dez anos (de carreira), mas durante cinco anos não teve gravadora, era tudo independente. E ninguém da banda tem família rica, tem algum contato com empresários com pessoas do meio artístico. Então fomos devagarzinho mesmo. Só tinha um lugar para fazer as nossas coisas, que era a internet. O que aconteceu é que começamos a juntar um grupo grande de fãs e, do nada, começou a dar certo. Nós tínhamos por volta de 18 anos, todo mundo trabalhava, foi quando resolvemos largar tudo e arriscar. Continuamos por um tempo, ainda bem independentes, tocamos em cada buraco para 20, 30 pessoas. Teve uma época que pensamos em desistir, até que o nosso clipe, que gastamos uns R$ 100 na época pra fazer, entrou no ‘Disk MTV’. Isso chamou a atenção das gravadoras, recebemos propostas de todas as grandes.


iG: Vocês já entraram em alguma furada?
Di Ferrero: (risos) Várias! A gente só dá valor hoje porque já passou por muito perrengue. A gente topava qualquer coisa. Teve uma vez que tocamos em uma festinha de aniversário. Eu tinha acabado de tirar a carta e íamos nós cinco dentro do carro pequeno, com os instrumentos no colo. O nosso cachê era a gasolina que precisaríamos para ir até o lugar e voltar. Nós pensávamos: ‘Se pelo menos não gastarmos nada para tocar, está tudo bem’. Bom, a pessoa aceitou a proposta e lá fomos nós. Chegando lá, tinha umas 50 pessoas, um palquinho montado. Enquanto os outros passavam o som dos instrumentos eu montei uma barraquinha, como sempre fazíamos, vendendo camisetas, CDs. Depois que estava tudo certo com o som, começamos a tocar e estava tudo indo bem até que a mãe do aniversariante chegou e ficou horrorizada com o som alto, com o barulho. De repente ela saiu e voltou com um padre. Eles desligaram o som e pediram para todo mundo dar as mãos e rezar, porque a gente não estava bem, estava precisando de ajuda, que tinha alguma coisa errada com o som que a gente fazia. Rimos demais, pensamos: ‘Só com a gente mesmo que uma coisa dessas acontece’.


iG: De uma festa tão pequena quanto essa para um show lotado no Via Funchal na gravação do DVD “Multishow Ao Vivo – NX Zero”, qual a diferença?
Di Ferrero: (risos) A diferença é que hoje, graças a Deus, a gente pode comprar coisas que sempre quis. Pode ajudar a família, montar uma estrutura de show legal. Nesse DVD a gente usou tudo que quis: fogo, laser, LED. Estamos vivendo aquele sonho de quando começou a banda, que pensamos que nunca iria acontecer. No fundo, existia uma esperança, mas sabíamos que era muito difícil. Mas mesmo assim a batalha continua. A gente pensou que não iria precisar mais acordar cedo. E um monte de coisa do tipo, mas é exatamente o contrário: quando você consegue, tem que tentar manter.


iG: Com o sucesso, como você lida com fama, dinheiro? Essas coisas chegam a atrapalhar?
Di Ferrero: Pra nós, isso nunca atrapalhou, acho que porque nunca tivemos dinheiro (risos), por isso damos muito valor. Desde o começo, a gente fez uma poupança, fez tudo bem organizado, certinho. O lance de fama, de fãs. Claro que em algum momento mexe com a cabeça. Quando a música começou a tocar nas rádios eu tinha 19 anos, eu era muito novo. Mexeu com cada um de nós de cada jeito, mas sempre que a gente percebia que tinha alguma coisa estranha, a gente conversava, avisava. O fato de sermos muito amigos sempre fez muita diferença.


iG: Em que aspecto você acha que a banda mais evoluiu?
Di Ferrero: Acho que no principal, que é a música. A gente estuda muito e está sempre querendo se reinventar. Tem coisas que a gente faz hoje que não conseguia fazer antes em termos técnicos. É uma realização ver que antes tinha um público que pré-julgava a banda, mas hoje já respeita. Tem todo tipo de gente nos shows. Hoje tocamos em qualquer lugar. Já tocamos em rodeios. Em rodeios, no Complexo do Alemão, na Daslu.


iG: Vocês sofreram muito preconceito no começo?
Di Ferrero: Tinha algum preconceito, sim. Mais da galera que não conhecia a gente, a nossa história. O NX tocou quase cinco anos com as bandas punks de São Paulo, eles sempre apoiaram a gente. Uma parte do grande público, como com qualquer coisa nova que surge, olhou de forma estranha. Mas é impressionante como, hoje, a gente ouve muitas pessoas falando: “Eu não gostava muito no começo, mas agora vou a todos os shows”. Isso dá uma satisfação muito grande. Nunca perdi a cabeça, porque eu sei que a gente é verdadeiro, não é só uma banda a mais. No começo, podíamos fazer tudo do NX Zero: boné, chiclete, chapéu. Mas não quisemos fazer nada disso, pensamos: “Vamos fazer a música primeiro, que é o mais importante”.


iG: Agora surgem algumas bandas novas que são verdadeiras febres no Brasil, o que você acha, por exemplo, da Restart?
Di Ferrero: Eles são mais novos até do que o NX quando começou. Eles até foram muito nos nossos shows, eles mesmos falam isso. Acho que a galera julga muito. Só o tempo vai dizer o que vai acontecer com eles. Sei que eles são muito gente boa, são humildes. Acho que quem não gosta do som, simplesmente não tem que ouvir e deixar os caras em paz. Sempre tem que ter banda nova, sim, a gente não precisa gostar - ninguém é obrigado a isso - mas tem que respeitar.

iG: Como toda banda, o NX Zero tem suas groopies. Como você lida com o assédio das fãs?
Di Ferrero: (risos) Acho que faz parte do rock. Tem meninas que conhecem todo mundo, conseguem entrar no backstage. Sempre dão um jeito, parece filme. A gente lida normal, hoje todos da banda namoram. Mas tem que respeitar, acima de tudo elas são fãs da banda.

iG: As namoradas têm muito ciúmes?
Di Ferrero: Elas já acostumaram. A minha namorada é atriz. Eu poderia ter ciúmes dela. Às vezes ela tem que beijar alguém em alguma cena, eu não posso ter ciúmes, isso é normal. Facilita ela ser deste meio.

iG: Com as redes sociais, as fãs estão cada vez mais próximas. Não chega a acontecer o contrário, as fãs terem ciúmes das namoradas?
Di Ferrero: Isso aconteceu muito no começo. Tem coisas absurdas que aconteceram, algumas fãs xingaram, ficaram bravas. Hoje, acho que já é o contrário, as fãs ficariam tristes se a gente terminasse. Elas vêem que estamos felizes. Já acostumaram.

Fonte: Ig Jovem

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